Irritação. Essa
palavra resumia bem o que sentia depois daquela reunião. Entendia muito bem que
seus chefes estavam putos da vida por não conseguir pegar o gatuno que se
apossara de outra joia famosa, mas nem de longe estava satisfeita com o esporro
que a equipe levara. Socou mais uma vez o botão do elevador na van esperança de
que ele chegasse mais rápido. Dois segundos depois, a porta se abriu. Adentrou no
mesmo e apertou o botão de seu andar. Aproveitando-se que estava sozinha
acomodou-se à parte dos fundos, a cabeça encostada no metal fitando a luz de
teto que lhe agrediram as pupilas. Sentia a cabeça dolorida, efeito colateral
de passar as últimas horas argumentando naquele jogo de adivinhação que era
tentar descobrir qual seria o próximo alvo. Suspirou, fechou os olhos e deixando esquecer-se de tudo por alguns
instantes.
Sentiu o
elevador diminuir a velocidade e parar, fitou os números em vermelho na parte
superior do painel. Ainda faltavam vários andares para o seu.
As portas se
abriram.
Blazer preto,
calças chumbo, gravata, camisa branca de listras. Sobrancelhas grossas, cabelos
displicentemente desalinhados, barba por fazer, lábios volumosos e bem
desenhados. Era alto, mesmo para ela que estava em cima de saltos. Ele vinha
armado, não de pistolas ou qualquer instrumento bélico do tipo e sim de uma
fisionomia enigmática, um sorriso que não se pronunciava totalmente, mas que desejava
ser notado, e os olhos: Castanhos escuros, invasivos, que varreram o corpo da
mulher com um olhar, vagarosamente, dos pés, as pernas descoberta, passando
pelas coxas delineadas pela saia lápis, a camisa branca, demorando-se nos
botões abertos, subindo para o pescoço quase escondido por um lenço, boca e
então lhe fitando os olhos sem pensar em titubear. Inflamável.
Quis cruzar os
braços sobre os seios, sentia-se nua na frente do estranho que, finalmente,
resolvera adentar no elevador. As portas deslizaram bem no momento em que ela
pensou em caminhar para fora. Ficaram a sós naquela minúscula caixa metálica.
Engoliu em seco. O movimento pareceu
mais audível do que deveria, os olhos castanhos se voltaram novamente para a
presença feminina, fitando-a como um espécime exótico por trás de um vidro em
um laboratório.
Acuada. Era
assim que se sentia.
Resolveu
fita-lo. Queria perguntar o que diabos ele queria.
Ledo engano.
O sorriso despontou nos lábios, apenas uma
lateral arqueada, o olhar ainda estava lá. Flamas. Ela entreabriu os lábios,
não para fazer uma pergunta, mas para soltar a respiração que até então não
sabia que estava prendendo. O ato pareceu diverti-lo, os olhos se estreitaram.
A mão direita, que até então estava no bolso, foi estendidas a ela.
— Gregor. — a voz era grave, suave,
convidativa.
Ela engoliu em
seco. Era impressão sua ou ar havia ganhado alguns célsius a mais? Ela suava.
Enxugou a mãos na saia e estendeu a ele.
— Lexie. — seu timbre saiu rouco, e sua pele
estava estranhamente fria em contato aos dígitos dele. Correspondeu ao cumprimento,
pronta para recolher a mão o mais rápido quanto fosse possível.
Não houve
qualquer iniciativa de desfazer o aperto por parte do homem. Ele mantinha os
dedos firmes em torno dos delas, ainda a fitava. Uma expressão de curiosidade
pelo que ela faria. Lexie mordeu o lábio, indecisa. Não havia nada no manual
social que designava o que fazer quando um estranho carregado de sex apple a
abordasse daquela maneira. Sua mente lhe
sussurrou uma ação, e ela teve de reprimir um gemido que não fora bem
disfarçado. Isso só pareceu servir de divertimento. Tentou puxar a mão.
Não deu certo.
Pelo contrário, ao puxar a própria mão Gregor acabou acompanhando o movimento
com todo corpo e agora estava a centímetros dela. Ele era cerca de um palmo
mais alto, e estava com a cabeça inclinada fitando os lábios femininos.
Descarado, sem qualquer reserva ou pudor. Ela sentiu-se tremer sob a pele.
Respirou fundo.
O oxigênio necessário pra clarear os pensamentos trouxe consigo um aditivo:
odor masculino misturado com uma colônia suave. Ela fechou a mão que não estava
cativa em punhos, cravando as unhas na pele. A dor lhe serviu para pescar
alguma coerência do cérebro anuviado. — O que pensa que está fazendo? —
retorquiu.
— O que você
queria que eu fizesse? — foi à resposta que ele deu.
Tensão.
Tremores. Ideias. Calafrios.
Ele poderia ser
um maluco, ela poderia ser molestada. O que diabos era aquilo? Porém ele não se
mexia, esperava uma resposta. Os olhos eram invasivos, e o corpo masculino
parecia ocupar todo o elevador, mas o único contato mantido era o das mãos.
O que ela queria?
Mordeu os
lábios novamente. Tinha uma boa ideia da resposta, mas poderia?
Querer nem sempre é poder...
Desviou os
olhos para o painel, estavam chegando ao seu andar. Voltou a olhar para o homem
que ainda esperava sua resposta.
Pro inferno com o bom senso!
Ela avançou, batendo
em uma parede de puro músculo. Os lábios do desconhecido se encarregaram de lhe
dar as boas vindas, e os braços lhe delinearam a cintura enquanto empurrava-a. Sentiu
o corpo ser prensado contra a parede e pode tomar conhecimento de todas as
partes que se chocaram a si. O que os olhos não viam a mente completava as
lacunas. Ela gemeu.
As portas se
abriram e sem precisar de palavras para comunicar que devia sair ele deu alguns
passos de costa. Ela pescou o cartão chave do bolso traseiro da saia e seguiu
caminhando às cegas. Passaram por duas portas e então se desgrudaram o suficiente
para ela se virar para o painel-fechadura.
As mãos
tremulas demoraram em acertar a entrada de leitura magnética, e o fato de
Gregor estar pressionando o corpo contra suas costas não a ajudou. Podia senti-lo
quase completamente.
Blasfemou
quando errou pela terceira vez.
— Humm...
explosiva... — ele sussurrou em seu ouvido. E ela não soube como destrancou a
porta, porque quando conseguiu raciocinar novamente já estava sendo carregada
pelo corredor que dava na suíte. — Veremos o que faço com esse temperamento.
Não importava
que eles nunca houvessem se visto, ou que não se veriam novamente depois
daquela noite. O que importava era o que queriam, e naquele momento queriam um
ao outro. E isso era motivo mais que suficiente para eles.
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